segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A Lágrima é Verdadeira

Como diria Renato Russo: "Vamos celebrar a estupidez humana."
Sim. Quero propor aqui um brinde. Erga seu copo e celebre comigo.
Não se acanhe, não enterre sua cabeça embaixo da terra, esperando o vendaval passar.
Agarre-se no primeiro poste, levante a cabeça e encare-o de frente também.

Antes de discursar o célebre momento do tim tim, até o estralar de taças, quero justificar com uma cena incidental ao texto que se segue.

Estive dia desses assistindo o filme "Clube da Luta". Filme pesado de signos, cenas sangrentas, daquelas que faz voce fazer careta e sentir a dor junto com a personagem. Filme bom para se assistir três vezes, e trocar o ângulo em cada uma delas.
A cena mais marcante pra mim diz muito sobre o que estou passando agora.
Ela acontece assim: Tyler pede a mão do seu melhor amigo e protagonista da história. O amigo, confiando nele, estende a mão, sem saber ainda o motivo. Ele lambe os lábios e, delicadamente, beija a mão do amigo, como quem reverencia uma dama. Em seguida, despeja na mesma mão um pó ácido, que reage sobre a pele umidecida de sua saliva, queimando-a em uma intensidade e uma dor maior que uma queimadura em terceiro grau. Tyler prende a mão do amigo para que ele não consiga soltar, enquanto se debate e suplica piedade. Enquanto isso, Tyler evita ao máximo que a mente do amigo fuja daquele momento. Ele ordena que ele sinta a dor completamente, sem artifícios. Diz que é um grande momento em sua vida, e que deve ser contemplado, para que ele usufrua com plenitude e sinta cada célula de sua pele corroer. É o teste. É o valor da destruição.
O objetivo da dor não é que voce aprenda a fugir, mas que aprenda a senti-la, para se tornar mais forte.

Os percalços da vida não existiriam se neles não houvesse um objetivo, uma razão. Nada na vida é sem sentido. Como diria Lenine, "Não é só felicidade que tem fim na realidade, a tristeza também tem."

Hoje meu brinde vai a dor. Celebrar meu espelho destroçado pelo chão. Quero sentir na plenitude minha pele corroer, até que reste somente uma cicatriz. Cicatriz esta que eu levarei pra sempre, por toda a vida, como recordação de uma passagem importante. Morrer sem cicatrizes é como passar uma vida inteira sem cair no chão, sem abrir um corte, sem fazer um hematoma. Quem nunca o fez, sempre se privou da vida. Passou por ela, sem nunca tê-la vivido.

O ser humano não dá valor a felicidade. Só se nota uma felicidade depois de tê-la perdido. Com a dor, não. Ela aparece e voce sente, instantaneamente. Só conseguimos realmente ser plenos na vida quando sofremos. Ficamos sensíveis, poéticos, artistas, intensos. Voce, que nem via sentido na vida, de repente passa a reparar no canto dos pássaros, nas flores secas, nas mãos dadas de um casal. "Um dia preso em uma cama de hospital e voce já sente inveja das pessoas que podem simplesmente caminhar pela calçada", ouvir dizer Viviane Mosé.

Até que o luto cesse e tudo volte ao eixo, farei o tilintar com a solidão, com a noite fria e silenciosa do degrauzinho no meu pequeno quintal. Minha felicidade não depende de ninguém, assim como minha tristeza não precisa de companhia.

Me recluso, junto aos meus poetas, ecoo suas frases de efeito enquanto me apoio nelas. "Posso até ir ao fundo de um poço de dor profundo, mas volto depois, sorrindo."

Doravante, eu continuo. Nesse espaço, nesse curso.

Circular e retilínio. Irregular, exatamente como deve ser.

Nos percalços, no percurso.

Avante, nessa imensa Ciclo-Vida.

E continuo.

E continuo.

Eu continuo.

Um comentário:

  1. "O objetivo da dor não é que voce aprenda a fugir, mas que aprenda a senti-la, para se tornar mais forte".

    A dor serve com certeza pra você escrever com mais sentimento do que eu já havia lido. E como você disse: ela passa.

    Um brinde a dor.

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