sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tempo

quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele
soprando sulcos na pele soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)
acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim
                      e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás
 um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando

(Viviane Mosé)

domingo, 10 de outubro de 2010

Navalha na Carne

                                                                            (...)

"
N SUELI:          (No chão, apanhando os objetos espalhados) Pára com isso! Por favor, pára! Será que você não é capaz de lembrar que venho da zona cansada pra chuchu? Hoje foi um dia de lascar. Andei pra cima e pra baixo e pra cima, mais de mil vezes. Só peguei um trouxa a noite inteira. Um miserável que parecia um porco. Pesava mais de mil quilos. Contou toda a história da puta da vida dele, da puta da mulher dele, da puta da filha dele, da puta que o pariu. É isso que cansa a gente. Às vezes chego a pensar: Poxa, será que eu sou gente? Será que eu, você, o Veludo, somos gente? Chego até a duvidar. Isso é uma bosta. Uma bosta!

VADO:               É...é mesmo....

N SUELI:           É mesmo o quê?

VADO:               Você tá uma velha podre. Olha! Olha! Vê, cinquenta anos!

N SUELI:            Por favor, Vado, pára com isso!

VADO:                Olha bem! Olha bem velhota! Coroa!

N SUELI:             Vado, chega! Chega!

VADO:                 Cem anos! Cem anos! Quanta ruga! Que cara amassada! Que bagaço!

N SUELI:             Chega! Não aguento mais! Chega!

VADO:                  Chega mesmo! Sou um cara boa pinta, não vou perder minha mocidade ao lado de um bagaço. Cadê a graana, sua vaca? Onde está a grana de hoje?

N SUELI:              Vou te dar a grana. (Pega o dinheiro) Está ai todo o dinheiro que tenho. Pronto, é seu. Está contente?

VADO:                  Tá legal. Assim é que é. Agora tchau. (Vado sai)

N SUELI:              Vado!...Vado!...Você vai voltar?...Você vai voltar?..."


                                                                              FIM
(Trecho da peça Navalha na Carne, de Plínio Marcos)

À Palo Seco e Infiltrado

"Febrehemoptisedispnéiaesuoresnoturnos.
A   vida      i n t e i r a   que podia ter sido e que não
foi.


Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:


- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trintaetrês... t r i n t a  e  t r ê s ...
- R e   s      p  i   r    e.


- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."

 (Bandeira, MANUEL. Pneumotórax)
                                                  

                                                                                            (...)


"Por força desse destino
O tango argentino me vai bem melhor que o blues
Sei que assim falando pensas
         Que esse d e s e s p e r o é moda em 73
Eu quero que esse canto torto
Feito faca corte a carne de vocês."
(Belchior. À Palo Seco.)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Livro de cabeçeira da vez.........

Meu Deus, ainda não consegui terminar de ler esse livro! Há séculos ele grita na minha mochila todos os dias: "me leiaaaaaaaaaaaaa!" e nada. Tá rouco, tadinho.
O problema é que é interessante demais, intenso demais, difícil demais pra se ler assim, de qualquer jeito. E aí, vou deixando pra depois...

Um dos melhores que já li, até onde já foi lido, rs! Recomendio.
Missionários de Luz, do Chico Xavier, pelo espírito de André Luiz (o famosinho do cinema, hahaha)

Da Série Posts Antiguera : Dia das Crianças!

viu criança em frente à vitrine da melhor loja de brinquedos? Sou assim na Saraiva. Poderia até me tornar a garota propaganda, se eu parar pra contar o que sinto lá dentro, loja adentro.
Um sentimento estranho de quem sempre sobreviveu às custas desse ar, como se fosse meu próprio universo, de berço.  Como se eu nunca estivesse em outro lugar se não esse. Em meio aos livros e a música.
Sempre quando entro, os olhos brilham, as mão tremem, o pensamento violenta: “Se controla, se controla.” Imagina, não vou comprar nada dessa vez.
Mesmo assim, os olhos correm, ansiosos e dilatados, à procura de um bom motivo para cair em tentação.
Encontrei  Box do Rei B.B., Hendrix, Divas do Blues...R$ 30,00 que eu pagaria como quem compra uma coca-cola em um dia de muito calor. Enfim...”se controla..” Fui em direção à saída.
Na última ilha, a última cartada da loja, um golpe de misericórdia. Peguei um livro de Kafka. Nada que me fizesse voltar até o caixa. Fidel e Che talvez em um outro momento, onde eu não me lembre mais o quão comercial fizeram meu ídolo revolucionário. Ao lado, algo chama a atenção: Histórias de Canções Chico Buarque. Paraliso.
O que eu poderia querer mais senão um livro com estas histórias? O que afinal eu tenho procurado nas horas de lazer, sem saber bem por onde e como começar? E como a loja soube disso?!
Voltei. Rezei para que o cartão passasse. Corei. Naquele momento, minha vida dependeria de uma maquininha. Fechei os olhos depois de digitar a senha. Alguém me acordou:
- Moça, pode retirar o cartão.
(...)
Sai de lá com vontade de gritar, de rir... Vontade de chorar mesmo. Abri o livro em uma página aleatória, na ânsia de descobrir tudo logo, ou de adiantar alguma coisa que acalmasse os poros, que parasse a lágrima e 'evitasse o drama':
“Não chore ainda não, que eu tenho um violão e nós vamos cantar.”
(...)
Fechei o livro. Não precisa explicar mais nada, Homem.

Revelação

Veio devagar.
E por que não me alcança?
Vem com leveza,
Envolta de mim
A sambar.
Delicadeza sua,
Veio devagar.

Como um samba de choro emocionado
Faz chorar
Vem e se colore,
E a cor que se escolhe
É o lado, sob o sol, do seu olhar.

E da luz faz a magia acontecer
Faz enfim voce perceber
Que tudo, desde sempre
Esteve bem diante de voce
Embaixo dos seus pés
Tímidos e admirados
Debruçados e descalços
Vendo a morena girar.

Mas, eu não quero outra, não!
Nada mais encanta.
Nada mais atrai.
Eu quero a vida encandescente
Poeira transparente
Sobre a areia do mar.

Elo que eu quero sentir
Entre a vida de lá e daqui
Me dá a esperança
De que ela ainda fica, paciente, a me esperar.

Espera, vida minha, só mais um pouco que eu vou já!
Estou chegando, tonta de vontade
Torta de saudade de te abraçar
Nem que seja apenas durante
O eterno e estúpido instante
Do seu respirar.

(vou com ela sambar)
ps: um dia, ainda há de virar samba...

A pedidos...

Conforme solicitação, eu voltei e vou colocar aqui uns posts do blog Antiguera =)
Os posts então que virem com o texto mais clarinho, foi tirado de lá.
Estou devendo a novela mexicana, né trupe? Logo menos........ !



AguardemmMMM, má oe. hihi.

Sobre Todas as Coisas

Você pode ignorar meu trabalho. Minha presença e meus convites. Meus livros, meu carinho, minha preocupação. Pode ignorar e desprezar meu desejo em ajudar e minha maneira em querer bem. Desprezar minhas palavras, meus gestos, meu jeito... Meus r**, minha amizade e minhas mensagens de texto. Ou até mesmo minhas tentativas em te trazer para a minha vida. 
Eu me acostumo, e com a voz tranquila, faço que não importa. Ajo como se fosse, porque sei que um dia não vou me importar de verdade.
A última coisa que me importei e que realmente gostaria, é que tivesse lido minha última carta.
Seu silêncio sempre me diz muito. E esse, agiu como resposta.
Antes de ignorar novamente, me faça um favor: desconsidere-a, mesmo quando já tenha tido feito.

Obrigado!

Sobre Todas as Coisas
Composição: Edu Lobo/Chico Buarque de Hollanda
 
Pelo amor de Deus
Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem
Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém
Abandonado pelo amor de Deus

Ao Nosso Senhor
Pergunte se Ele produziu nas trevas o esplendor
Se tudo foi criado - o macho, a fêmea, o bicho, a flor
Criado pra adorar o Criador

E se o Criador
Inventou a criatura por favor
Se do barro fez alguém com tanto amor
Para amar Nosso Senhor

Não, Nosso Senhor
Não há de ter lançado em movimento terra e céu
Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel
Pra circular em torno ao Criador

Ou será que o deus
Que criou nosso desejo é tão cruel
Mostra os vales onde jorra o leite e o mel
E esses vales são de Deus
 
Pelo amor de Deus
Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem
Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém
Abandonado pelo amor de Deus

Salvar em Rascunhos?


Sou do tipo de pessoa que gosta de escrever, mas não gosta de se explicar. Minha forma de me expressar pela escrita é muito profunda, fato que justifica as horas que levo "esculpindo" um texto. Escolho cada palavra, moldo cada frase, alinho cada ideia. É difícil pela complexidade - o que não tem relação nenhuma com escrever bem ou mal, coesiva e coerentemente ou não -  porém não vence o desejo; como o estancar da hemorragia não vence o fatal jorrar do sangue (maravilhoso e transbordante, né Chico?). É mais do que dizer: É uma necessidade fisiológica do meu corpo e da minha alma.
Quando tenciono, as palavras se calam na ponta da língua. Por mais que me provoquem e aticem os nervos, nada nem ninguém consegue arrancá-las pela minha boca.Isso, acredito eu, se deva porque pra dizer às vezes é preciso não pensar. Quem fala muito, fecha os olhos e ouvidos, cego e surdo também às consequêcias. Não consigo não pensar nas consequências.Simplesmente não consigo dizer sem antes pensar demais. No calor das emoções, a boca serve de muralha para todas aquelas palavras que queiram fazê-lo. Sem saída, elas se acumulam pela minha 'estrada de mão'...Única. Assim, o desmoronar é iminente.
É tão forte que uso feito terapia. Escrevo o que preciso dizer e guardo o texto pra mim. Espero o tempo da raiva, e quando a poeira assenta, leio, trabalho e estudo o que fazer com aquele sentimento, antes intangível por origem, ora calcificado em moléculas de texto. Engraçado é depois ver minha caixa de e-mails com quase trinta "rascunhos"... (vide o print!)
Por isso, ao ler um texto meu, não me peça explicação. Ele é minha midia, meu veículo de comunicação de sentimentos. Não existe sinônimos ou traduções. Leia... e sinta.