domingo, 10 de outubro de 2010

Navalha na Carne

                                                                            (...)

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N SUELI:          (No chão, apanhando os objetos espalhados) Pára com isso! Por favor, pára! Será que você não é capaz de lembrar que venho da zona cansada pra chuchu? Hoje foi um dia de lascar. Andei pra cima e pra baixo e pra cima, mais de mil vezes. Só peguei um trouxa a noite inteira. Um miserável que parecia um porco. Pesava mais de mil quilos. Contou toda a história da puta da vida dele, da puta da mulher dele, da puta da filha dele, da puta que o pariu. É isso que cansa a gente. Às vezes chego a pensar: Poxa, será que eu sou gente? Será que eu, você, o Veludo, somos gente? Chego até a duvidar. Isso é uma bosta. Uma bosta!

VADO:               É...é mesmo....

N SUELI:           É mesmo o quê?

VADO:               Você tá uma velha podre. Olha! Olha! Vê, cinquenta anos!

N SUELI:            Por favor, Vado, pára com isso!

VADO:                Olha bem! Olha bem velhota! Coroa!

N SUELI:             Vado, chega! Chega!

VADO:                 Cem anos! Cem anos! Quanta ruga! Que cara amassada! Que bagaço!

N SUELI:             Chega! Não aguento mais! Chega!

VADO:                  Chega mesmo! Sou um cara boa pinta, não vou perder minha mocidade ao lado de um bagaço. Cadê a graana, sua vaca? Onde está a grana de hoje?

N SUELI:              Vou te dar a grana. (Pega o dinheiro) Está ai todo o dinheiro que tenho. Pronto, é seu. Está contente?

VADO:                  Tá legal. Assim é que é. Agora tchau. (Vado sai)

N SUELI:              Vado!...Vado!...Você vai voltar?...Você vai voltar?..."


                                                                              FIM
(Trecho da peça Navalha na Carne, de Plínio Marcos)

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